Artistas

Agatha Fiúza

Ainda

Técnica mista, acrílica sobre tela. 2,12 x 89cm.

“Ainda (A persistência da retina)” organiza signos do cotidiano carioca em uma composição virtual e onírica. Na tela, palavras ganham dimensão pictórica junto a imagens fragmentadas de aparelhos eletrônicos e veículos de transporte, remontando uma paisagem moderna. Partindo da palavra enquanto disparador, a pintura se apropria de frases e expressões da cultura Pop e Funk carioca, bem como de imagens femininas de protagonismo negro de ambos os ritmos. “Ainda” é a afirmação de um presente que impulsiona imaginários positivos, apontando em direção a um futuro preto, repleto de ritmo e movimento.

Alan Mvnz

Série “Retratos do Absurdo”

Óleo sobre tela. 20 X 30cm.

Alice Moliv

Aceitação

Acrílica e óleo s/ papel Kraft 300g . 108 x 72cm.

“Aceitação” é uma das cinco pinturas da série “As Cores do Luto”, baseada em minha experiência pessoal. Seguindo a ideologia da psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross, trata-se da conformidade da perda do ente querido e a promessa de que essa pessoa e sua luta não serão jamais esquecidas. Sua cor regente vem da associação ocidental da alegria e da felicidade, bem como da acidez com o amarelo. O jogo de neutros e terrosos compõe os altos e baixos desse estágio que, muito diferente do que se pensa numa primeira interpretação, não se trata apenas da alegria e da superação fáceis.

Amanda & Isadora

Teoria de Unificação dos Corpos (T.U.C.)

Videoarte , 2’13”.

Asmahen Jaloul

Eu lembro desse momento

Acrílica sobre compensado. 54,5x80cm.

A pintura “eu lembro desse momento” é um registro afetivo, movimento como a abertura de um diário. Na cena, é retratado um momento íntimo de culinária de sua avó e sua tia libanesas na simplicidade de uma cena cotidiana. Com a sensação de congelamento do tempo, notam-se suas indumentárias, característica marcante árabe, e outros objetos, como móveis de madeira, tábua e facas, trazendo a apreciação aos momentos cotidianos lançados à margem quando se vê o orientalismo marcado por lentes ocidentais.

Quero notícias de casa

Pintura e colagem, óleo e jornal betumado sobre tela. 60x60cm.

“Quero notícias de casa” é um retrato sobre a imigração. A artista utiliza uma fotografia de seu pai, libanês imigrante, durante a guerra civil libanesa, e a transforma em uma pintura, que traz à tona todas as sensações, como tristeza, saudades, medo, e inseguranças. O apartamento de sua terra natal, a falta de notícias e os segredos que escondem a realidade de quem ainda permanece em seu país são representados na obra através da escrita em árabe, como “Não pertencimento” na capa do jornal e destaques como “Nem tudo vai sair do sigilo”, versando sobre a realidade do passado e presente de um árabe.

Bea Machado

Série: O subúrbio é dentro da gente

Óleo sobre tela. 1,00×1,25m. Óleo sobre tela. 80x60cm.

Beatriz Almeida

O que me faz

Óleo e acrílica sobre algodão. 140 x 3 cm

O trabalho revisa o tempo numa perspectiva de acúmulo de experiências, as quais se somam formando o que entendemos como presente. Penso nesse fenômeno aplicado à subjetividade do indivíduo, levando em consideração não apenas os fatores vinculados a ele, mas também às demais pessoas com as quais se relaciona ao longo da vida, tendo a família como ponto de partida. Assim, entendo que a forma como sou atualmente é reflexo de como fui outrora, como meus pais e meus avós são e foram algum dia, estendendo essa lógica a outras tantas relações. “O que me faz” é, portanto, um revisionismo de mim mesma.

Beatriz Meirelles

Ervas Pioneiras

Guache sobre papel. 118x168cm.

A obra “Ervas Pioneiras” é sobre sua insistência em sobreviver em espaços hostis, e viso homenagear essa luta. São resistentes, prosperando em condições muitas vezes inóspitas, com pouco solo, água ou luz solar direta. Assim, as ervas pioneiras deslocadas agem metaforicamente nas camadas sociais urbanas, igualmente mutacional, móvel, mestiça e diaspórica. Também é assunto quando falamos de negligência prolongada e de medidas extremas de controle. Então, deslocando essas ervas, ela cria um cenário de grande riqueza de detalhes, com o objetivo de ver a beleza oculta nessa natureza tão negligenciada.

Bernardo Marques

0101ff_ 0101ff_

Vídeoarte.

0101ff_ representa uma jornada através de arquivos pessoais, onde imagens tremulam e se entrelaçam com o azul atemporal. Esse projeto de vídeoarte oferece uma exploração poética de nossa existência, revelando a natureza transitória do processo de existir. O nome em si possui um significado importante para a obra, representando o código RGB da cor azul, que se torna a identidade artística do trabalho. No contexto deste projeto, o azul adquire uma qualidade poética, servindo como uma representação metafórica do pano de fundo constante da nossa existência.

Brenda Cantanhede

Artistas Contemporâneas & CHAOS IS ME

Instalação, 96 fotografias 3×4 em estrutura de acetato. 68 x 21cm.

“Em mundo cada vez mais destituído de imagens originais… os objetos artísticos se tornam cada vez mais mercantilizados.” Vivemos de forma abrupta nos tempos da artificialidade, o caldo cultural do hoje é intensamente constituído sobre os pilares do acúmulo, da ansiedade, do fake e da morte. “Saímos da era da contemplação e entramos na era da informação.” Sobre reflexões, faço uma busca por mulheres artistas, discutindo não somente a experiência feminina perante o circuito contemporâneo das artes, mas a relação desses corpos, cada vez mais diversos com os meios de comunicação atuais.

Bruna Gama

Ecos Virtuais: A Imersão em um Cenário Botânico

Arte Interativa (VR ).

Em meio à crise ambiental originada pelo consumismo desenfreado, que ameaça a vida em todas as suas formas, ‘Ecos Virtuais’ emerge como uma proposta para reconectar o público ao Meio Ambiente através da Arte-Tecnologia. Essa reconexão pode ser alcançada através de um meticuloso cenário imersivo, construído a partir de elementos gráficos que se originam de linhas, formas e texturas orgânicas encontradas nos microcosmos das plantas. Esses elementos foram capturados do interior e exterior delas utilizando a Fotografia Microscópica Digital. Dessa forma, ‘Ecos Virtuais’ desperta e explora novas perspectivas do olhar, que servem como alicerces para a formação de um repertório visual de caráter natural, especificamente vegetal. Este repertório é moldado por peças gráficas estrategicamente introduzidas, culminando na criação de um espaço botânico lúdico. Este cenário é resultado da pesquisa prático-teórica conduzida no Laboratório NANO (Núcleo de Arte e Novos Organismos).

Carol Nascimento

Alinhavo de tempo

Fotografia, papel fotográfico fosco e bordadas à mão. 42×29,7cm.

Clara Bakker

Pode tocar

Díptico, bordados em algodão. 13 x 10,5cm.

O díptico composto por dois bordados, que fazem parte da série PODE TOCAR, surge da experimentação de cores, texturas e formas que desenvolvo em minha pesquisa abstracionista. A linha surge, então, enquanto material plástico que resgata memórias afetivas de grandes matriarcas costureiras. Assim, minha proposta é permitir o toque às obras, já que ofereço a experiência através da troca com o espectador, que imagina mundos possíveis através das cores, formas e texturas que crio. Além dos avessos, também expostos, que revelam os nós e os embolados dos bordados, assim como os caleidoscópios, objetos repletos de segredos e magias. Portanto, cada ponto que bordei carrega em si memórias e histórias de mulheres revolucionárias que se expressam através da arte têxtil e possibilita, principalmente, a imaginação de universos e mundos possíveis, assim como um caleidoscópio.

Cláudia Lyrio

Terra de pássaros

Óleo sobre linho encordoado em chassi, políptico com 40 telas em dimensões variáveis.

O trabalho “TERRA DE PÁSSAROS”, de Cláudia Lyrio, apresenta uma pesquisa em processo sobre a avifauna brasileira. Resultado da pesquisa de campo em que registros fotográficos de diversas espécies são realizados sem ânsia ou pretensão científica, que não é o campo de trabalho da artista. A obra, um políptico que conta atualmente com 44 obras, vem sendo construída desde 2017 (primeiros registros) e 2018 (primeiras pinturas). O trabalho apresenta as aves pintadas em grisalha (escala de cinza). A opção por essa paleta é, indo muito além do underpainting, para trazer ao observador o sentido da perda das espécies em virtude das mudanças climáticas oriundas dos efeitos do chamado Antropoceno. O suporte, uma adaptação do antigo processo de esticar a tela (séc XVII) que encontra ressignificação nos sentidos de captura, arapuca, gaiola; uma apreensão a respeito do tráfico ilegal de animais. A obra tem toda ela um lirismo melancólico, um olhar amoroso para esses seres.

Ídolo

Óleo e acrílica sobre tela, políptico 58 telas. 200x360cm.

O trabalho ÍDOLO, realizado em 2018, nunca foi mostrado ao público. A obra é uma tentativa de fixar em 58 telas a imagem-fantasma (eidolon) de meu irmão, Eduardo, nascido em 1958 e falecido em decorrência de um AVC aos 58 anos. A imagem de referência para as pinturas é um retrato 3x4cm de Eduardo, aos 5 anos, com a blusa do seu time. O retrato foi estranhamente usado pela minha mãe desde então para falar do “filho que morreu”. A obra vai ao universo infantil brincar com figurinhas repetidas em um álbum de cromos. “O rosto é o ser inevitavelmente exposto do homem e, também, o seu próprio restar escondido nessa abertura”, diz Giorgio Agamben, “o rosto não é um simulacro, é simultas, ele reúne ao mesmo tempo nossas múltiplas faces e nenhuma delas é mais verdadeira que a outra. Para saber o rosto, não devemos pensar em semelhanças, mas na “simultaneidade dos semblantes”, na “inquieta potência que os mantêm junto e os reúne em comum.” Para encontrar esses semblantes nesse retrato, joguei sobre ele repertórios reais e imaginários.

Coletivo Geometria Expressiva

Alan Melo | Bruna Gama | Yasmim Carolino

Olhares: Conectando Arte, Geometria e Campus

Videoarte, 3 ’20”.

“Olhares” foi feita com o auxílio do software de geometria dinâmica Geogebra. O intuito desta obra é tentar criar uma conexão entre a universidade e seu corpo discente, através de um jogo de imagens inspirado pela magia do Caleidoscópio. Por meio das transformações pontuais, visamos não apenas revelar os ambientes da Escola de Belas Artes, mas também exibir algo que estimule a imaginação e a apreciação artística de maneira única e envolvente.

Dani Spadotto

Elegia Obscena | cena26 | Incorporal

Vídeo-Performance, 5’10”.

Diana Akokán

A Curandeira

Óleo sobre algodão cru. 75X47cm.

A fé do colonizador junto com as práticas milenares de cura dos povos originários criou uma amálgama poderosíssima para combater “quebrantos” e “espinhela caída” no Brasil, “mal de amores” na Nicarágua, “empacho” no México e “mal de ojo” na Colômbia. Um simples galho de arruda, na mão certa, faz milagres. Detentoras de valioso conhecimento que não se encontra em livros, elas dão alívio e esperança onde a medicina do jaleco branco não chega. Mulheres misteriosas, tão poderosas, tão humildes, tão imprescindíveis.

Felipe Carnaúba

Paisagem Kommunist (Mariká será o fim do Kapitalismus… Venha, Jesus e Mônica! Mostra às crianças com O Afeto como se faz uma revolução Br!!!%#&#%#+++!)

Acrílica e carvão sobre tela, 2023. 110 x 80cm.

A pintura estimula a imaginação-lúdica com a ferramenta poética-política ao se apropriar dos iconoclásticos, transformando memes e figuras populares em camaradas comunistas. Reformula imagens afetivas em tática política, e diante da construção da obra é executada uma mágicka-política material para estimular sonhos de Mariká Kommunist: Criar uma utopia-mito da cidade de Maricá. A pintura opera no deslocamento disruptivo de signos afetivos neoliberais e, através da ironia e humor, disputam-se narrativas afetivas contra o capitalismo que perpetua a miséria pela ditadura burguesa.

Fernanda Pontes

Ode ao Passado | Ode ao Futuro

Díptico, acrílica s/ madeira. 30x40cm.

“Ode ao Passado” e “Ode ao Futuro” são tentativas de manter a essência lúdica da infância apesar das dificuldades vividas no contexto do Antropoceno. Com o uso de imagens que trazem elementos relacionados às brincadeiras infantis em cenários oníricos arruinados, proponho tentativas de rememorar o que já foi parte das nossas vidas e, ao mesmo tempo, fazer uma ponte conectando esses sentimentos de volta para o futuro, mesmo que este seja um futuro hostil e incerto.

Gabriel Mendes

Melting_waters

Videoarte, 5’52”.

Numa realidade contemporânea na qual o mundo já não possui espaços suficientes, na quala virtualidade toma conta do cotidiano e dos sonhos e na qual o físico perde lugar e importância para servidores e algoritmos, a desconexão da realidade é o vislumbre do futuro, verdade e mentira são tão relativas quanto tempo e espaço e ideias são tão binárias quanto programas de computador. Deixamos nosso passado gravado em pedra, nosso presente em rede, e quando tudo acabar só restarão pequenas pistas da identidade humana e seu império tecnológico como ruínas estáticas, esquecidas diante do domínio absoluto da natureza.

Gabriela Irigoyen

Planos de Observação

Livros e fios.

Planos de Observação são objetos de experimentação material em termos visuais e táteis. São livros de artista cujos textos são o material com que foram feitos. Nestes objetos livros, as páginas são planos de observação que se movem em torno de um eixo – como se fosse um caleidoscópio em plano aberto – e criam efeitos visuais diferentes a cada vez que suas páginas são giradas. Construí estes livros com o intuito de experimentar a realização de livros de artista a partir de três plataformas de criação: materialidade, construção e poética. No vídeo é possível visualizar a manipulação de um dos livros que compõem a obra Planos de Observação.

Me conta uma história

Performance

Na performance “Me conta uma história”, o ato de construir um livro se torna performance e narrativa, mas que só é acionada a partir da participação do espectador. O início da ação criativa se dá a partir do seu aceite e da sua participação: me conte uma história breve e enquanto você a conta eu faço um livro em estado de performance que você pode levar com você. O trabalho se torna potência em processo contínuo quando o participante leva consigo o livro todo em branco, que viu sendo feito enquanto contava a sua história.

Giovani Melira

Eco

Vídeo-Instalação, tecidos e projeção, 3’4″.

O eco é um fenômeno acústico que ocorre quando o som é refletido em obstáculos, retornando em forma de repetição sonora. Essa conexão entre som e espaço é um fenômeno natural, que estabelece uma intersecção entre o corpóreo e a propagação do meio. A conexão entre som e espaço, representada pelo “ECO” transcende o simples fenômeno acústico, nos lembra que a comunicação é repleta de nuances e significados, e que cada imagem/som evidenciado pode ecoar além do momento presente. Nessa cacofonia, há uma narrativa invisível que fala da busca incessante por moldar o mundo ao nosso redor. Tornando-se uma metáfora, refletindo a busca por respostas, criando um eco etéreo de nossos pensamentos e emoções.

Giovanna Rimes

Reconquista

Fotografia digital seguida de manipulação das cores da imagem.

O projeto fotográfico “Reconquista” tem essencialmente como tema o equivocado princípio de que o espaço disponível para a natureza crescer foi delimitado pela humanidade, pois não é sempre assim que acontece. O fato é que a natureza pode reconquistar sutilmente, pode ocupar espaços inusitados ou até mesmo previsíveis quando se tem noção de sua força. Além de registrar essas ocorrências, procurei entendê-las com um tom esperançoso de que nem tudo está perdido. Ainda há procura de vida a céu aberto. O que a natureza e o verde representam em contraste com os espaços dominados pelo concreto e imóvel?

Higor Alcântara

Série “Fragmentos da Vida Suspensa ”

Gravura, monotipia sobre papel. 80x60cm. Monotipia sobre papel.80×60 cm.

As obras partem da monotipia botânica – um processo gráfico que constitui-se da obtenção da textura de plantas que têm a necessidade de serem impressas sob muita pressão, tendo como qualidade uma tiragem única. Tenho explorado uma abordagem singular no uso desta técnica que vai para além das plantas, adentro um universo onde o lixo e os objetos descartados se tornam elementos fundamentais das composições. Através dessa abordagem, busco investigar criticamente a relação entre o mundo natural e o mundo construído pelo homem. Ao incorporar objetos que encontro no meu cotidiano e levá-los para o ateliê, como sacolas plásticas, máscaras descartáveis, solas de sapato e outros elementos, símbolos de nosso tempo, mergulho na experiência dos objets trouvé dos cubistas, fazendo uma conexão com os ready-made duchampianos. Amplio o espectro de materiais utilizados, explorando as texturas, formas e histórias presentes nos descartes. Considero essa série como um “mundo suspenso” no qual esses objetos ganham uma nova dimensão. Essa ideia vai ao encontro de Jacques Rancière, filósofo, professor e crítico de arte francês, em suas palavras no prefácio da exposição “Levantes”, com curadoria de Georges Didi-Huberman, em cartaz no Sesc Pompéia em 2018, no qual escreve que existem certas palavras que parecem conter em si mesmas o sentido daquilo que designam e, ainda mais, apontam para o caminho que leva delas às coisas. “Levante”, segundo ele, é uma dessas palavras, questionando o que no mundo não se levanta.

Isabella Raposo

Objeto Sonho

Loïescópio | Giroscópio | Kellyscópio

Objeto Sonho é uma série de máquinas participativas criadas a partir da recombinação de elementos básicos do universo cinematográfico, como luz, cor, som, engrenagens, lentes, filmes, bobinas e manivelas. São invenções tecnológicas que sugerem outras possibilidades de relação com imagens e sons em movimento, inspiradas nas invenções tecnológicas do pré-cinema e do chamado “primeiro cinema”. As obras se inserem neste tempo presente como um convite à reinvenção e à convivência com outros sonhos de cinema.

Isadora Duarte

A negra de turbante. ATO 2

Videoarte, técnica colagem digital.

A imagem retratada é uma fotografia de uma mulher negra usando um turbante, capturada por Alberto Henschel, um fotógrafo alemão atuante no Brasil. Essas fotos de corpos negros eram frequentemente tratadas como curiosidades exóticas, e não como retratos de indivíduos. A autora da obra se sentiu desafiada a dar uma identidade a essa mulher, mas reconhece a dificuldade de fazê-lo devido à ausência de informações. Ela opta por agradecer à mulher por meio de uma prática artística que consiste em três camadas: a moldura, o mar como uma linha que une os continentes e suas próprias palavras, buscando entender e honrar a existência da mulher retratada, mesmo sem conhecê-la plenamente.

Jean Prado

Beijo I, Beijo II, Beijo III

Óleo sobre tela. 16X12cm.

As pinturas beijo I, II e III marcam o início de uma série de pinturas que busca causar admiração, pertencimento, identificação e informação sobre a comunidade LGBTQIAPN+. O beijo representa a forma mais íntima da relação entre duas pessoas e pode ser entendido como uma maneira de demonstrar afeto, expressar sentimentos e desejos. Essas pinturas existem para que este grupo se sinta parte do mundo em que vive e se veja representado em seus modos mais individuais de ser. Digno de várias histórias, sejam elas de amor, aventura, autoconhecimento… podendo ser a dois, três ou até mesmo só. Para os que não estão neste grupo, fornece a informação, que a arte com seu poder sempre nos trouxe, de que a diversidade é algo intrínseco ao ser humano, e o que vemos aqui é apenas a reprodução da vida.

João Torracca

Magnum opus

Óleo, bastão oleoso e spray sobre tela. 200x180cm.

Parto da crítica acima do texto de Hobbes, as refrações possíveis dos movimentos populares e a multiplicidades de discursos anti totalitários.

Jônatas Moreira

Inter Faces 8

Acrílica sobre tela. 60x90cm.

“Inter Faces” é uma série de pinturas que refletem sobre questões de identidade digital e autoimagem. Ela aborda como os dispositivos eletrônicos e as redes sociais afetam a maneira como vemos os outros e a nós mesmos. “Inter Faces” discorre sobre o entendimento e a percepção de si em diferentes ângulos, o uso de dispositivos eletrônicos como impulsionadores da autoanálise e a constante necessidade que temos de nos observar sob diversas perspectivas.

Ju Morais

Série: quem constrói a casa?

Tecer | Esfarinhar | Granular | Coser

Instalação, Vergalhão, madeira, corda, crochê de arame, bordado de pedras, miçangas e piçarra. Dimensões variáveis.

Ao observar minha região, reconheci a beleza nas construções periféricas, a arte por trás delas, assim como as ferramentas manejadas pelos mestres de obras. Estabeleci uma conexão entre a costura, que produz roupas para nos proteger, e a construção, que ergue lares para nos acolher. Lembrei da minha mãe, que costurou nosso primeiro lar. Ao me deparar com montes de areia nas calçadas, relembrei da peneira utilizada para separar grãos, e como essa lembrança me conduziu aos bastidores do bordado. Foi assim que criei uma nova narrativa, com o crochê de metal, reinventando o ato de peneirar à minha maneira.

KHÁOS

Série: (R)Existências Brasileiras

Ainda estamos descalços

Instalação com esculturas em gesso, cimento e borracha. 300 X 300cm.

O passado colonial e escravista do Brasil criou, senão o maior, um dos maiores desafios da sociedade brasileira na contemporaneidade: o enfrentamento do racismo. Apesar da abolição da escravatura em 1888, ainda persistem algumas “representações sociais” que insistem em sugerir uma suposta inferioridade dos negros e pardos brasileiros. “AINDA ESTAMOS DESCALÇOS” é um trabalho que faz menção direta ao fato de que, durante o Brasil colônia, escravizados não usavam sapatos. Somente negros libertos tinham o direito de calçar os pés. De fato, os calçados eram entendidos como símbolos de liberdade.

Série: “Carioca é um povo de rua”

“José”, um dos donos da rua

Instalação com esculturas em cimento, gesso, linho e fé… muita fé. 100 X 180 X 150cm.

A instalação “JOSÉ”, da série “CARIOCA É UM POVO DE RUA”, leva em consideração (1) a inscrição do sagrado nas ruas cariocas e (2) a presença quase que tridimensional da divindade a qual representa. A composição faz com que: o padê seja retirado de um suposto lugar de invisibilidade, a imagem de José evidencie a presença do “divino” e acione fragmentos ressignificados como “belos” pelo público. O trabalho sugere “abrir os caminhos” para repensar o quase apagamento, ou melhor, o (des)apagamento dos sinais que sinalizam a presença do Divino de Matriz Afro-Brasileira no cotidiano carioca.

Leô

Âmago I, Âmago II

Fotografia. 29,7 x 42cm | Fotografia. 42 x 29,7cm.

As fotografias selecionadas são obras que compõem o Fotolivro Âmago. O trabalho investiga questionamentos do Eu na busca por reconhecer os monstros nele revelado e ao mesmo tempo os acolhendo. Trata-se de uma brincadeira do imaginário em um “pique-esconde” com nós mesmos. Realizado em 2023, a partir do Projeto de Pesquisa a Expansão da Experiência Fotográfica, e orientado pela professora Dra. Lilian Soares.

Lucas Gibson

Sob o Nervo da Noite

Políptico formado por 9 fotografias impressas em papel Hahnemühle Matt Fibre. 65 X 95cm.

“Sob o Nervo da Noite” é uma série que nasce a partir de minhas experiências como fetichista e frequentador de festas noturnas, retratando minha fascinação pessoal com o corpo e as expressões da personalidade humana. As primeiras fotos datam de 2016, constituindo um trabalho em contínua produção sobre a vida noturna alternativa em boates nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. A partir de uma abordagem intimista, fotografo as pessoas que partilham da noite comigo, divertindo-se e celebrando seus corpos, dons artísticos, desejos e personalidades.

Luiz Torres Ludwig

Absorpta

Escultura | videoinstalação | esculturas em gesso | vídeo.

“Absorpta” é uma obra de arte ficcional pós-humanista que propõe um universo alternativo onde o corpo desenvolveu a capacidade de absorção de dados por meios biológicos. Situado em cenário especulativo, no qual a sociedade vive uma superabundância de informações, alterações genéticas aparecem no corpo humano, viabilizando a captação de dados por meio das extremidades dos dedos. Segundo a fabulação criada, ao longo do tempo, a anatomia dos dedos da mão assumiu um papel fagocítico, executando processos celulares de captura de partículas materiais para obtenção de informações genéticas.

Luiza Souza

Emaranhado de Gestos

Cerâmica e linha vermelha. 60x100cm.

Inspirado nas abordagens de Celeida Tostes, esse trabalho busca explorar a conexão dos gestos com a Cerâmica e dispensa a utilização de ferramentas, pois estas dialogam com o racional. Atualmente, dispõe de 305 peças de barro, que permitiram que as minhas mãos tivessem liberdade para sonhar. Com uma proposta mais orgânica e intuitiva, a decisão de não utilizar a queima deixa em aberto uma jornada fascinante de mais movimentos. Os gestos capturam momentos únicos e espontâneos no barro e a conexão das peças pelo fio vermelho convida o espectador a explorar a relação estética desta instalação.

Mandú

Aqui, nesta terra, pisamos em ovos ou em cemitérios

Instalação, argila preta, dimensões variáveis.

Investigação poética instalativa referente à possibilidade de se abrir portais entre os mundos dos nascidos e malnascidos. A cada passo desta terra há um cemitério, mas também a pulsão de uma vida que ainda pode surgir. Criaturas treinadas para existir em um mundo que não existe mais, projetadas para transitar entre tempos, sem medo das alterações interespecíficas causadas (ou desenvolvidas) durante a viagem. Fazendo uso da imagem do ovo, que categoricamente na história da arte conceitual brasileira com Cildo Meirelles e Maria Maiolino está ligada à questão da vida e da morte, e pensando nas histórias dos sambaquis presentes neste território, procuro evocar, através da construção de uma cena, o movimento (e o momento) da eclosão. Em um buraco negro a grávida se faz tão densa que nada pode escapar delas, nem mesmo a luz, mas e uma vida? Estas ondas vibracionais, em giro, deixam rastros para a fabulação radical de enxergar isso tudo como uma cena em aberto, uma possibilidade, tudo aquilo que ainda está por vir.

Marcela Cavallini

Coparticipante: Sofia Mussolin

Hutukara: entre a pele e a casca

Videoarte.

“Por entre as finas membranas de nossas naturezas são tramadas num vai e vem descontínuo as linhas de uma dança cósmica. Um corpo que nasce carrega a força de esgarçar a pele e romper a casca. Sua busca, luz e escuridão. Frágil, cruel e violenta a metamorfose. Então fogo, terra, árvore, água e serpente ganham forma no tilintar da noite. Produzem espirais da morte em vida. O abismo da barbárie em curso e a degradação que se espalha em gotas de sangue na queima da seiva atravessando a casca, na pele que, ferida, deixa de sentir… nada ainda impede que tudo renasça sempre e a todo instante.”

Marcella Moraes

Dia de mormaço, 2023

Colagem de atlas do Brasil do ano de 2019 s/ papel. 106 x 68cm.

Em uma busca pela contínua mutação da paisagem brasileira, a colagem se torna uma superposição de dois tempos: uma pintura de paisagem do Brasil do século XIX e dados visuais coletados de atlas escolares do ano de 2019. A colagem faz referência à pintura Dia de mormaço, de Antônio Parreiras, realizada em 1900, que serviu como um marcador temporal do local pintado para superpor dados visuais do Brasil de 2019. Esta superposição de dois tempos abre um leque para a visibilidade de mais de um século de problema ambiental e que, nos últimos anos, o Brasil pareceu viver uma de suas maiores crises.

Paisagem fluvial, 2021

Colagem de atlas do Brasil do ano de 2019 sobre papel. 35 x 24cm.

Em uma busca pela contínua mutação da paisagem brasileira, a colagem se torna uma superposição de dois tempos: uma pintura de paisagem do Brasil do século XIX e dados visuais coletados de atlas escolares do ano de 2019. A colagem faz referência à pintura Paisagem fluvial, de Almeida Junior, realizada em 1899, que serviu como um marcador temporal do local pintado para superpor dados visuais do Brasil de 2019. Esta superposição de dois tempos abre um leque para a visibilidade de mais de um século de problema ambiental e que, nos últimos anos, o Brasil pareceu viver uma de suas maiores crises.

Marina Cespe

O indefinido sempre ficou comigo; o resto, levaram

Pintura, óleo s/ tela sem chassi. 101x80cm.

O trabalho surge da representação repetida de um objeto símbolo conectado à vida da artista: um medidor culinário de plástico em formato de pato, pertencente à falecida avó, encontrado em sua antiga casa. Apesar de ser um item de carga afetiva única, é um produto extremamente barato e comum que pode ser encontrado em qualquer loja de utensílios. O objetivo da pintura é buscar tensões entre a memória latente em objetos pessoais e a repetição sistemática na produção industrial dessas peças, procurando tratar da sua relação com os vestígios deixados pela presença de alguém que já não está.

Inteira

Série “Como se me moesse”

Pintura, acrílica e óleo. 80x80x4cm.

O trabalho busca tensionar aspectos íntimos do corpo com o consumo e a produção acelerada de imagens. Nele foi utilizado como base o pigmento pyrrole, o vermelho empregado industrialmente para tingir os carros de cor vermelha. A pintura é usada a partir disso para trazer o apagamento da artificialidade causada pela lógica mercadológica. A pintura tem como objetivo funcionar como um manifesto: não quero nunca ser máquina, não quero nunca ser uma mera imagem junto a uma infinidade de outras, quero ser de carne, por inteira.

Sobra

Escultura, porcelana fria branca . 100x60cm.

A instalação/escultura procura estabelecer uma relação entre o corpo e o espaço. A massa branca da porcelana fria simula um corpo dilacerado e estranho, que traz a representação dos dentes como texturas ásperas dessa carne que já não se suporta e transborda, sobra. Ao integrar esse movimento branco a uma parede também branca, o trabalho busca refletir a própria neutralidade da superfície lisa do espaço de galeria, que se estabeleceu historicamente como um local duro e desconfortável. A parede branca e neutra se torna cada vez mais visceral. As sobras aparecem e ficam.

Matheus de Souza

Fatos tumultuados, nunca me convenceu

Pintura Acrílica e óleo sobre tela – Tríptico interligado por barras de rosca com porcas. 84×80,5cm.

Com pesquisa focada na cultura urbana, “Fatos tumultuados, nunca me convenceu” se inicia com a música “Na Zona Sul”, do músico Sabotage, São Paulo, região onde o artista nasceu e se baseou. A obra é composta de três frames/telas, mas unificados compondo uma obra, remetendo às fragmentações culturais afro-diaspóricas que compõem a cultura periférica paulista. De cima para baixo, é remetido o trompete que emite o som do sample icônico do grupo Racionais, originado de uma música estadunidense. Segue a repressão desses e a vaidade, assunto da cultura periférica que se embasa no esporte.

Otto lobato

Corte

Papel sulfite 75g, aplicado técnica lambe-lambe. 84,1×118,9cm.

Inspirado no documentário “Everybody Street” (2013), o longa documenta a trajetória de fotógrafos que percorrem as ruas de Nova Iorque capturando hábitos, comportamentos e tendências da vida urbana e underground. Em “Corte”, o trabalho focou na cultura de barbearia, atividade em plena efervescência nas favelas cariocas e que traz consigo um potencial estilístico capaz de atacar atravessar todas as camadas sociais. O “Corte” se torna um respiro de cultura e estética contemporânea afro-brasileira em meio ao crescimento das periferias e escalada da violência. Com dinâmica espontânea, os registros trazem à tona uma profissão por onde perpassam diversas questões de subsistência, estética e resistência.

Rafael Vilarouca

Tempo comum

Políptico – videoinstalação, Fotografia/colagem digital, Vídeo Tempo Comum 2’46’’, Três céus 6’38’’.

Em “Tempo Comum”, os outdoors são retratados como as ruínas de uma civilização em declínio. Esta arquitetura utilitária do capitalismo apresenta-se ineficaz sem as imagens promocionais que lhe dão sentido. Na série de Vilarouca, as formas das placas são recortadas contra o azul do céu, enfatizando o olhar do fotógrafo para cima; o firmamento é reiterado como espaço de fuga e projeção ambígua de medos e desejos coletivos. Nas bordas das imagens, surgem sinais do percurso, de um caminho não falado e que não possui destino.

Renato Faccini

Lyra

15 peças em serigrafia. dimensões individuais 47x 37cm.

“Lyra” é uma coleção de serigrafias criadas a partir de desenhos da figura feminina nos meus sketchbooks. A série foi criada com o objetivo de explorar a técnica serigráfica, com produção e curadoria do ateliê Caderno Listrado (Curitiba – PR). Selecionamos 15 desenhos que foram tratados digitalmente, com investigação das possibilidades em duas cores, texturas e padronagens. Para chegar a esse resultado, optamos por utilizar a retícula estocástica, que resulta em texturas com nuances detalhadas. Os temas da coleção também exploram o figurativo combinado com o abstrato e o realismo fantástico.

Ryan Ferreira Hermogenio

Série: Captura de ecrã

Pinturas digitais, impressas em Canvas. 59,4×84,1cm.

Figurinha repetida

La gloria eterna

Primeiro beijo

A Pintura digital “La Gloria Eterna” emprega uma variedade de imagens digitais em sua composição, utilizando trabalhos de diversos autores:

“Abstrato-Natural”, parede texturizada vermelha de Lalandrew, 2018.

“Estrela Vermelha” – Estrela do Partido dos Trabalhadores, 2021.

“Flamengooo”, de Poze do Rodo, 2021.

“Gatinho Miau Miau”, de Padre Fábio de Melo, 2020.

“Alien vs. Predador”, de James Cameron e David Fincher.

“TL;DR”, de Cory Arcangel.

“Libertadores”, de MC Brinquedo.

“P20”, de Tony Camargo, 2007.

“Fábrica de Ratoeiras”, de CADU.

“Luiz Inácio Lula da Silva”, Ricardo Stuckert, 1979.

“Jogadores-do-Flamengo-Comemoram-o-Título-da-Libertadores-em-Guayaquil, Alexandre Vidal, 2022.

Joguei com a fronteira da contaminação entre a pintura contemporânea e o jogo das imagens técnicas. A maneira como penso o processo desses trabalhos é um jogo de diálogo através das imagens, sintetizando as informações recebidas em meu cotidiano. Neste conjunto de três pinturas, fui contaminado pelo contexto do ano de 2022 com a Copa do Mundo no Qatar e a eleição presidencial no Brasil. A disseminação de imagens nas redes torna-se material de apropriação com o qual vou brincando com a ideia de pintura e suas possibilidades.

NOTA: A Pintura digital “La Gloria Eterna” emprega uma variedade de imagens digitais em sua composição, utilizando trabalhos de diversos autores: • A imagem de fundo vermelha é derivada da obra “O Vermelho é Nossa Brasa, Por Hoje”, de autoria de Martha Werneck, óleo sobre kraft, 2022. • “Abstrato-Natural”, parede texturizada vermelha de Lalandrew, 2018. • “Estrela Vermelha” – Estrela do Partido dos Trabalhadores, 2021. • “Flamengooo”, de Poze do Rodo, 2021. • “Gatinho Miau Miau”, de Padre Fábio de Melo, 2020. • “Alien vs. Predador”, de James Cameron e David Fincher. • “TL;DR”, de Cory Arcangel. • “Libertadores”, de MC Brinquedo. • “P20”, de Tony Camargo, 2007. • “Fábrica de Ratoeiras”, de CADU. • “Luiz Inácio Lula da Silva”, Ricardo Stuckert, 1979. • “• “Jogadores-do-Flamengo-Comemoram-oTítulo-da-Libertadores-em-Guayaquil”, Alexandre V.

Sara Zacarias

E assim se criou a realidade

Escultura, madeira e linhas. 280 x 40 x 50cm.

“E assim se criou a realidade” dialoga com a ideia da criação como uma manifestação do corpo. Criação, entendida aqui como uma forma de materializar e tornar parte da realidade aquilo que antes nem mesmo existia. Entretanto, esse corpo não cria a partir do nada, além da materialidade, este corpo carrega consigo as memórias que o constitui. O ato criador emerge das vivências e da ancestralidade deste corpo, corpo esse que só o ‘é’ porque houve tantos outros que o ‘foram’, isto é, uma memória que perpassa gerações e que se manifesta na criação.

Pela fissura Te vi

Escultura de madeira. 55 x24x15cm.

Com uma estrutura de madeira enclausurando o vazio que há entre ela e a parede, em “Pela fissura Te vi” proponho-me a falar sobre o tempo. Um tempo que antes era vivo, mas que agora é apenas um esqueleto, um resquício do que se era. O tempo é muitas vezes uma noção que ajuda a compreender o viver como algo decifrável. Como se ao encaixar distintos acontecimentos na narrativa temporal a existência pudesse ser algo mais palatável. Entretanto, o viver é muito mais que algo a ser palatável, ele é imenso, transborda, quebra as vértebras do tempo.

Suellen Rodrigues Martins

Taxidermia empírica

Políptico – videoinstalação, Fotografia/colagem digital, Vídeo Tempo Comum 2’46’’, Três céus 6’38’’.

“Taxidermia empírica” é uma obra que evoca o pensamento a respeito de dar forma a algo, propondo uma reflexão sobre a inexistência do Ser. Partindo do conceito de taxidermia, o objeto personifica a ideia de existência na tentativa de manter preservada formas e planos. Aqui, a representação desse Ser – aquele que vive ou já viveu –, encarnado no objeto, traz uma silhueta enigmática e disforme, ilustrando esse feito que tenta plagiar a vida, sem sucesso. Ainda que não da mesma maneira, a imagem rememora a vida tornando-a um objeto outro. Assim, a obra torna-se um objeto empírico que representa o não-ser.

Teia trófica

Ferro, couro, parafuso e linha de algodão. 105x33x15cm.

Teia trófica” é uma obra que serve de instrumento para reflexões e questionamentos quanto à existência dos seres em comunidade. Utiliza-se do conceito como provocação para se pensar as formas que se conectam possibilitando a existência de muitos em um. A obra é a representação de um esquema visual que comunica inquietações no que se refere às ligações possíveis que permitem a existência dos seres, como também, a reafirmação da presença do coletivo. Assim, as formas entrelaçadas e irregulares do objeto resultam na imagem do que poderia ser a representação da vida enquanto conexões

Vanessa Koiky

Suspensão

fotograma + fotografia , impressão fine art sobre Canvas. 46x61x4cm.

“Suspensão” busca justapor em um lugar real vários espaços que, normalmente, seriam — ou deveriam ser — incompatíveis. Aponta para inquietações do pensamento e do corpo: um emaranhado de regras, constrangimentos, opressões e repressões que se reorganizam, descolam-se e deslocam-se em direção a uma possível reinvenção. A materialização desses espaços se dá por meio da junção de diferentes imagens, cada qual carregada de seus próprios sentidos. ”Suspensão” torna-se um registro destes contraespaços: universos outros que estimulam modos outros de existência, um vislumbre de maneiras outras de existir em meio às forças que nos conduzem.

Vanessa Marques Oliveira

Rei dos Ratos

Gravura em metal, Água forte s/ cobre, impressão em papel Canson 300g. 20 x 30cm.

“Rei dos Ratos” é um fenômeno que se dá com roedores de cauda que fazem ninho. O que ocorre então é que, por conta do espaço confinado e habitado por muitos indivíduos, as caudas se emaranham e dão um nó, levando eventualmente os roedores ao óbito. Tive o primeiro contato com a imagem de um “Rei dos Ratos” vendo iluminuras medievais e então fui identificando a aparição em mais lugares, como em gravuras e pinturas. A figura se repete num ciclo de vida, se autorreferenciando num movimento orgânico de reprodução da imagem e gerando novos significados.

Vera Schueler

Banana verde

Acrílica sobre tela. 60 x 90cm.

A tela “Banana verde” apresenta um conjunto de quatro bananas que se sucedem, mudando de cor, de estado de maturação e do real para o irreal. O singelo cacho de bananas flutua na tela, harmonizando com um fundo marcado por transparências nada sutis. Não há nada muito além do que se vê, mas a visão engana e confunde, tira e põe.

Vicente Baltar

Sintomas Alados – ativação II

Instalação, cerâmicas esmaltadas com incisão de ferro.

“Sintomas Alados” consiste numa série de esculturas feitas a partir do barro queimado e esmaltado e do metal. Criaturas aladas, poemas inglórios, formas elementares, suturas de um tempo. As cerâmicas da instalação relacionam-se com o ferro que atravessam os seus corpos de barro, findando num diálogo friccional: O que pode sustentar um corpo? Como se ergue uma vida? As armadilhas de uma trajetória podem ser armaduras de um processo? A relação entre a terra fértil e as suspensões de metal sobrepostas traz uma perspectiva de fricção, invasão, visto que o metal ocasiona um limite de continuidade da natureza advinda da terra fértil. Ao mesmo tempo, há uma tentativa constante de relação, visto que a sinuosidade da terra é perpendicular à elevação e movimento das suspensões metálicas. A existência dessas materialidades escultóricas deixa em evidência sintomas do que não é mais suficiente e que, de certo modo, nunca foi, erradicando sistemáticas excludentes. Trago portanto a complexidade da vivência que habita e afirma o conflito, enquanto existência neste tempo e enquanto espacialidade.

Vinicius Soares

Um dia das crianças

Pintura, tinta serigráfica, marcador, spray, adesivo, s/ telas de serigrafias usadas. 100 x 120cm.

Tenho ido por um caminho que busca falar sobre a relação do trabalhador com as máquinas e os processos automatizados que permeiam a contemporaneidade. Sendo o trabalho aquilo que constrói a realidade, busquei incluir no meu processo elementos das formas de ofício que tive para me sustentar. O adesivo e as telas de serigrafia conversaram bem com o trabalho. As telas, adquiridas de descarte, quando unidas lado a lado possibilitam formar painéis de diferentes dimensões. O acabamento fica rústico e conversa muito bem com o lambe-lambe que é aplicado sobre, remetendo a um muro ou parede. O adesivo acaba sendo um elemento que além de lembrar do ato de trabalhar, também traz características do processo industrial, pois para que seja cortado, primeiro deve-se passar por uma máquina que corta seguindo coordenadas fornecidas por um computador. O código binário é a linguagem da máquina e os números acabam remetendo tanto ao místico quanto ao racional. Na cena, dois adultos distribuem balões para várias crianças em frente a uma casa com muro de tijolo aparente. Distribuir doces no dia das crianças foi algo que fez parte da cultura na periferia quando criança nos anos 2000.

Vítor Martins

Pequenas Navegações

25x20cm. 128pgs.

“Pequenas Navegações” vive na intersecção entre o fotolivro e o livro de artista, é um projeto que reúne quatro corpus de imagens. Fotografias abstracionais em preto e branco e invertidas (renegativadas); imagens de repositórios portugueses pesquisadas em locus que remetem ao translado, às navegações e, posteriormente, o choque com outras civilizações; cópias de páginas específicas da obra Os Lusíadas, de Camões; cópias de páginas específicas do livro Fotografia Arte e Técnica, livro teórico sobre fotografia. Além dos corpus de imagens, várias intervenções nas imagens foram utilizadas, desde a negativação das imagens passando por costuras, fitas, colagens. Todas pretendem acionar os olhos com o toque. Trazer para o olhar de quem vê a paginação o flutuar dos calos, das mãos, do tempo, das dores, do trabalho, para relacionar poeticamente o descobrimento, as navegações, que são grandezas, em miudezas da imagem, nos limites da fotografia. Chocando a precisão das Navegações com imprecisão e fragilidade tanto da imagem (feita ou de arquivo) quanto do papel. “O fotógrafo deve navegar em regiões nunca dantes navegadas” (Vilém Flusser), nutre o pensamento e prática que formaram o livro em comunhão com o “Por mares nunca dantes navegados” de Camões, frase destacada por meio de fita isolante durante as páginas do livro. Para alcançar rachaduras nas imagens, nos mapas, nas gravuras impressas, costuradas, coladas nas páginas até ligar, poeticamente, as navegações com a formação racial do Brasil, que se deu depois do seu posterior descobrimento.

Vitória Alves

PatakORI Ogum

Xilogravura em tampão de armário sobre papel kraft 280g. 47,5 x 95cm.

Viver no Rio de Janeiro é imergir na corrida do ouro, normalizando o que nunca deveria ser real. Orí, em Yorubá quer dizer “Cabeça”, na sua forma literal. Mas, para nós, Orí é a captura da necessidade humana em afundar nas vestes do estigma e segui-lo até a última batalha. Ogum venceu demandas, São Jorge matou o dragão. E nós, matamos um dragão por dia, vestindo o seu ORI, com a armadura que nos habita, usando de base somente a sola do pé, carregando demandas no ombro e morrendo todos os dias por Heróis, com suas espadas brilhantes e afiadas, fincadas por todo o corpo.

Vassoureiro

Xilogravura de compensado sobre papel vergê. 59,4 x 84,1cm.

Patrimônio imaterial do subúrbio carioca. VASSOUREIROOOO! OLHA A VASSOURA. A pé, com o chinelo preso aos pés por força artesanal, sua presença é marcada nos interfones das vilas, das casas, dos prédios e da rua. Sua rua. Sem linhas para soltar os seus peões, vagam soltos, de esquinas em esquinas, subidas e descidas com o ouro nas costas. “Vassoureiro” é jogador caro, artilheiro de primeira linha, leva taça no peito e feitiços nos ombros. Alguns corajosos aventureiros encaram a dificuldade, sem esperança, mas caminham nas encruzas. Exú, é você?

390 – Candelária

Xilogravura em tampão de armário sobre papel kraft. 47,5 x 95cm.

“Ao superar a escassez, criamos formas de superar as dificuldades do mundo, nas brechas das violências, que ao tempo todo nos fazem recriar sentidos ao mundo.” – Milton Santos O cansaço faz o corpo relaxar nas mais variadas situações. Somos levados à exaustão mental, que só uma cerveja bem gelada e aguada poderá nos reestruturar novamente para a vida. Enquanto não somos agraciados por este momento, vamos deixando a vida seguir, em um piloto automático fascinante. Hoje eu sou eu, amanhã eu não sou mais ninguém.